“Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim ainda que tiver morrido, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais” (Jo 11, 25-26)
O Senhor Jesus Ressuscitado dos mortos nos reuniu, em 2 de outubro, ao redor de seu altar, para celebrar a Páscoa Definitiva de nosso irmão, Dom Eurico dos Santos Veloso. Após uma longa existência de 90 anos, o Senhor o chamou a Si, no último dia de setembro, Dia da Bíblia, na festa de São Jerônimo. Seu passamento se deu também no contexto da abertura do Mês Missionário, Mês do Rosário, Festa de Santa Teresinha do Menino Jesus, que prometeu fazer chover chuvas de rosas do céu, em graças alcançadas para os fiéis, e na abertura da Semana do Nascituro, nesta ocasião terrível para o Brasil, quando querem impor de forma não democrática, mas ditatorial, leis assassinas de abortamento no País. Dom Eurico foi sempre defensor da vida e contra o aborto.
Após o agravamento de seu estado de saúde, faleceu certo de que havia chegado ao fim de sua missão na Terra e se preparou para o descanso que todos merecem, segundo sua própria expressão. Ao ser levado para a UTI, plenamente consciente, preferiu não ser entubado e entregou serenamente sua vida a Deus. Seus últimos momentos foram, assim, expressão de sua fé em Jesus, que disse: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que tiver morrido, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais (Jo 11, 25-26).
De fato, ao chegar à casa de Marta e Maria, irmãs de Lázaro, que havia morrido a quatro dias, Jesus nos deu, de forma clara e explícita, seu ensinamento sobre o fim de nossa vida. São João Paulo II, certa vez, relembrou-nos que a última palavra de nossa vida não é morte, mas ressurreição. Esta realidade é tão cara para a Igreja que a celebramos todos os dias na Eucaristia: a vida, morte e ressurreição do Senhor que se perpetuam na Terra até o momento em que Deus nos chama a Si. Aí acontece o destino de nossa existência, a acolhida na casa paterna, para a felicidade perpétua, a paz duradoura, a alegria sem fim.
Durante toda a sua vida terrena, Jesus ensinou aos seus discípulos a viver, a se prepararem para esse fim e para irem e ensinarem esta verdade a todas as nações e raças. Ao terminar sua missão na Terra, após ter ressuscitado dos mortos, antes de subir aos céus, ele reuniu os apóstolos e lhes deu esta ordem: Ide, pois, fazei discípulos entre todas as nações e batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos (Mt 28, 19-20).
Esta palavra final de Jesus Ressuscitado chamou de modo especial a atenção de nosso irmão, Dom Eurico dos Santos Veloso, tocando-lhe fortemente ao coração. Dela, ele escolheu seu lema episcopal: In Gentibus Evangelizare. O amor à evangelização não é outra coisa senão cumprir o mandato do Senhor a respeito da vida que se deve levar na Terra, em vista daquela que se vai viver na eternidade.
A trajetória de todo aquele que é agraciado com a vocação sacerdotal é marcada unicamente pelo amor a Cristo e Cristo por inteiro, com suas cruzes e suas alegrias, com seus trabalhos e suas vitórias, com sua vida no dia a dia e sua morte plácida no Senhor. Assim, o discípulo ouve o Mestre, procura assimilar todas as suas palavras e imitar na medida de seus limites o que o Senhor ensinou.
Jesus não ensinou a seus discípulos de modo acadêmico, mas prático. A quem deixa tudo pelo Reino, Ele prometeu o Reino do céu e o cêntuplo já nesta terra; mas também afirmou com ênfase: Quem quiser ser meu discípulo, tome sua cruz a cada dia e me siga, pois quem quiser ganhar a sua vida, vai perdê-la, e quem perder a sua vida por causa de mim, vai ganhá-la (Lc 9,23).
Assim como Jesus trabalhou em favor do Reino, de forma sequente, ininterrupta e incansável, nas andanças pelas estradas da Galileia e da Judeia até Jerusalém, onde morreu e ressuscitou, este nosso irmão que entregamos a Deus procurou viver desde que foi ordenado sacerdote, em 1962, poucos dias antes da abertura do Concílio Vaticano. No ministério presbiteral, esteve em vários lugares e cargos; e pelo ministério episcopal pastoreou na Diocese de Luz e em Juiz de Fora, seja como Bispo Auxiliar, seja como Arcebispo.
Hoje canta seu Nunc Dimitis, Domine, e entra para o gozo do encontro perpétuo com aquele que foi o sentido de sua vida e o motivo de seus trabalhos, Jesus, que lhe segreda aos ouvidos da alma, agora em forma definitiva, Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim ainda que tiver morrido, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais (Jo 11, 25-26).
Descanse em paz, Dom Eurico, junto a Maria Santíssima, aos santos e aos anjos. Amém.
Dom Gil Antônio Moreira Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
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