Você já encontrou Deus em sua vida? Ou já fez a dolorosa experiência de não sentir a sua presença quando mais precisava dele? Quais pessoas ajudaram você a encontrá-lo? Como Maria, Nossa Senhora, entra nesta história? A Sagrada Escritura nos apresenta, de forma abundante, estas experiências, sobretudo nas leituras do Segundo Domingo do Tempo Comum.
Na primeira leitura, ouvimos a experiência de Samuel. Ainda sem conseguir distinguir bem o que era e o que não era a voz de Deus, o jovem conta com a ajuda do sacerdote Eli, que, experimentado nas relações com o Pai, ensina ao adolescente a responder: “Quando ouvires outra vez a voz te chamando, responda: ‘Fala, Senhor, teu servo escuta’”. Deus nos ajuda a encontrá-lo pela mediação de outros. Há pessoas que podem nos orientar nas dúvidas, nos iluminar nas relações com Deus. Há pessoas que nos ajudam a discernir e dar a resposta certa, na hora certa, no lugar certo, do jeito certo.
No evangelho, é São João Batista que conduz a Jesus ao menos dois de seus discípulos. João Batista tinha também discípulos, mas sabia que sua missão era apenas preparar os caminhos do Senhor e que esta missão estava chegando ao fim. Soube passar o bastão e recolher-se para que Jesus iniciasse sua obra. “Não sou digno nem de desamarrar suas sandálias… é preciso que ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30).
O chamado Precursor aponta Jesus como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). A figura do Cordeiro para o povo da época era um símbolo forte: eles o ofereciam sobre os altares a Deus. Era uma espécie de intermediário entre o povo e o Pai. Jesus, superando a simples simbologia, é, para São João Batista, o verdadeiro Cordeiro.
João Batista, como Eli na primeira leitura, intermedia o encontro dos discípulos com o Salvador. Também André leva seu irmão, Simão, a encontrá-lo. A pergunta de Jesus a seus primeiros discípulos é esta: “O que desejam?” A resposta é “Rabi, onde moras?”. “Vinde ver”, diz o Senhor. Jesus os leva para uma amizade autêntica, que participa da intimidade de sua casa, com a partilha de seus espaços e de tudo o que tem. Eles ficaram com ele naquele dia. Comeram com ele, serviram-se de seus pertences para ali permanecer.
O verdadeiro encontro com Jesus é este. É conviver intimamente com ele, é estar sempre em sua companhia. O verdadeiro discípulo não só ouve sua palavra, nem somente assiste seus milagres, mas participa, literalmente, da vida com Cristo. Conseguimos isso através da oração, da liturgia, da leitura da Palavra, da missão, do amor ao próximo e, de forma privilegiada, da Eucaristia.
Em Nossa Senhora, o cristão percebe o modelo mais perfeito de encontro com Deus. Ela é modelo de escuta e de união com Deus; de intermediadora entre nós e Jesus e anunciadora da Palavra que se fez carne. Ela é aquela que acreditou que, para Deus, nada é impossível. Ela, mais que Eli para Samuel, mais que João Batista para os discípulos, mais que André para Pedro, mais que Pedro na sua missão papal, mais que os Apóstolos todos, é que pode nos apresentar Jesus como Filho de Deus por natureza, como Salvador, pois é a Mãe do Verbo que se fez carne.
Em nosso Centenário Diocesano, façamos a experiência de, com Maria, encontrar mais uma vez a Jesus, que está sempre entre nós pela Eucaristia. Celebremos, com fervor, o Ano Eucarístico. Ele nos convida, outra vez, com seu “Vinde ver” a convivermos com ele nas Santas Missas e nos Sacrários, onde está sempre a nos esperar.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
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